domingo, 27 de junho de 2010

Portugal e a República Portuguesa


Este templo situa-se em Portugal. Obviamente. Em Portugal, não na República Portuguesa. São realidades distintas e desirmanadas, Portugal e a República. Tanto quanto o são - e estão - a Nação e o Estado.
Se nos referimos a Portugal, de imediato visionamos o território, a lingua, a História, os nossos costumes e tradições, a nossa família e a dos nossos amigos.
Se nos referimos à República Portuguesa, logo nos assalta a cabeça a maçadora figura do Presidente, do Parlamento, do Governo, dos Tribunais, enfim. Turbilhões de gravatas, o Diário da República e o fac-simile das assinaturas nos tratados internacionais ("Pela República Portuguesa...") e uma distância incomensurável da nossa família e da dos nossos amigos.
Exemplifico com o texto da Concordata, por que hoje passei os olhos: «Sua Santidade o Sumo Pontífice Pio XI e Sua Excelência o Presidente da República Portuguesa [à época, Carmona], concordes no desejo de regular de mútuo acordo e de modo estável a situação jurídica da Igreja Católica em Portugal, para a paz e o maior bem da Igreja e do Estado». E, mais adiante: «A fim de assegurar as relações amigáveis, da maneira históricamente tradicional entre a Santa Sé e a República Portuguesa um Núncio Apostólico continuará a residir em Portugal e um Embaixador da República será nomeado junto da Santa Sé».
Evidentemente, nunca em tempos da Monarquia houve tal diferenciação entre a Nação e o Estado. Nunca alguém falou de um Rei da Monarquia Portuguesa, mas sempre no Rei de Portugal. Nação e Estado confundiam-se, sabiam entender-se, conversavam amenamente, eram um só. Agora, o mínimo que poderíamos esperar do Estado é que pagasse uma renda mensal à Nação como contrapartida da utilização que faz das suas instalações. Daquelas, v.g., com que gosta de deslumbrar os seus comparsas estatais.
Mas não. O Estado usa e abusa da nossa Lingua, da nossa História, da nossa Terra e ainda carrega de impostos a nossa Família e a dos nossos amigos.
Somos nós, afinal, os verdadeiros servos da gleba. Mesmo depois de a Monarquia ter abolido a escravatura.

2 comentários:

Filipa V. Jardim disse...

João Afonso,

Quando nos referimos a Portugal referimo-nos à nossa identidade.
Essa que vai perdurando e nos faz simultanemente, diferentes e iguais.
Esse templo, situa-se em Portugal, eu sei. Mas podia situar-se em qualquer parte do mundo, onde estivessem portugueses.Como se situam tantos templos como esse.
Rei de Portugal ou Rei dos Portugueses? Como é que os monárquicos encaram esse tema?
Por exemplo: a fazer-se um referendo, faria sentido fazê-lo em Portugal exclusivamente, ou para os portugueses?

João Afonso Machado disse...

Filipa:
A ideia do «Rei dos Portugueses» já é antiga. Ouvia-a a 1ª vez de um amigo nortenho. Faz todo o sentido, porque os portugueses estão espalhados por todo o Mundo e bom será que não esqueçam as suas raizes.
Ser rei de Portugal é ser rei dos portugueses. Hoje, talvez esta última formula seja mais expressiva.
A propósito: já se esqueceu que os emigrantes não podem votar nas eleições para P.R.? Estranho, não?