quinta-feira, 20 de maio de 2010

Propaganda - a venenosa arma do Partido Repúblicano


Já aqui foi referido no que se resumia a "ditadura franquista": com o Parlamento encerrado por um período indeterminado, a competência legislativa seria, nesse interim, desempenhada pelo Governo. Os partidos do regime não acharam graça, como é obvio - viam-se assim marginalizados. Já para o Partido Republicano tratava-se de uma oportunidade imperdível de propagandear, espalhando o alarme, exagerando e mentindo, acirrando ódios.
Também aqui já foi citado Vasco Pulido Valente, para quem os portugueses eram totalmente estranhos à República, excepção feita à pequena burguesia e ao operariado de Lisboa. Os destinatários desse ódio e de toda a mentira veiculada pela propaganda. Vejamos um exemplo:
Do jornal republicano O País (8-5-1907) - «A monarquia que nos oprime e espezinha, que nos afronta e enlameia perante as nações civilizadas; a monarquia tirana e despótica que nos rouba e manda assassinar - está tremida e fácilmente se derroca! Venha a revolução!»
Um mès volvido, no regresso de João Franco do Porto, espera-o, na estação do Rossio, uma manifestação adversa. Cabeçalho do jornal A Voz Pública do próprio dia: «O DITADOR NO PORTO».
E em Ernesto Rodrigues, 5 de Outubro - Uma Reconstituição:
«Luis Derouet contou n' O Primeiro de Janeiro (29-9-1925) como se organizou na véspera, 17 de Junho, no gabinete da direcção do jornal O Mundo, de França Borges, essa jornada, "que marcou indubitávelmente um avanço na propaganda republicana". O anfitreão recebia Afonso Costa, Alexandre Braga, Bernardino Machado, João Chagas, José Relvas, Alberto Costa (...) e outros. Debateram "sobre a proclamação que devia dirigir-se ao povo de Lisboa para a recepção ao salvador que se anunciava". Às quatro da manhã, ainda se discutia, pelo que o redactor lembrou a necessidade de aprontar o texto, em destaque na primeira página, intitulado "Aclamemos a Liberdade": "Deve, por isso, o povo de Lisboa comparecer hoje na estação do Rossio. E, se houver vivas ao ditador, o povo deve responder com vivas à Liberdade. É absolutamente necessário que isto se faça. O povo de Lisboa não pode aceitar de braços cruzados todas as afrontas arremessadas por uma petulante e atrevida ditadura; nem pode prescindir dos seus direitos (...) Não deixemos que, sem protesto, se aclame em público uma ditadura que é uma vergonha para a Nação e para cada um de nós (...) O ditador chega às 10 e 50 da noite à Estação do Rossio".
(...) Os jornais redobram em interjeições: "ABAIXO OS ASSASSINOS"; e subtítulos "O SANGUE DO POVO", "LISBOA DE LUTO"; "INFAMES! INFAMES!/ A CHACINA DE HOJE" (...) Um exagero, se houve só três mortos, transeuntes inofensivos».
O que se passara de facto: a Polícia foi forçada a intervir para assegurar a integridade fisica de João Franco e a sua comitiva, ao desembarcarem no Rossio, sériamente ameaçada por um bando selvagem de arruaceiros excitados pela propaganda republicana.

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