quarta-feira, 30 de setembro de 2009

X – LISBOA “REPUBLICANA” (1)

«Lisboa tem o ar de uma cidade coacta e constrangida, com as casas fechadas, as avenidas desertas, os restaurantes e as grandes lojas às moscas. Pelas ruas, de quando em quando, ajuntamentos de plebe arremangada, que parece esperar não sei que Páscoa; ou bichas de gente correndo ao governo civil e aos ministérios, e atroando os ares com berrarias que os jornais chamam pomposamente “manifestações”. A tropa sai dos quartéis para fazer apoteoses (!), como o outro dia ao Magalhães Lima. Os heróis e os ministros andam pela província no record dos vivas e na patuscada dos jantares. A gente rica retrai-se, a classe preponderante desaparece e some-se; e todos, atónitos, perguntam se é este o quadro de Portugal redimido e aberto à liberdade!
Digam-me então se pelo que acabo de expor, o país não ficou pior depois da República, do que estava nos “omniosos tempos da monarquia”».

ALMEIDA, Fialho d’ – Saibam quantos… (cartas e artigos políticos). Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1912, pp. 25-26.

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