domingo, 13 de setembro de 2009

IV – EDUCAÇÃO, A EVOLUÇÃO E OS REGIMES

«Este Portugal republicano é aquele que tem nas cidades 75, e nas aldeias 90 por cento de analfabetos; que apedreja os médicos por ocasião das epidemias, que crê parvamente em Messias políticos e bruxas, que vive de indústrias fictícias e agriculturas rotinárias, e com um jornalismo pedante de repórteres, uma ciência de copistas e uma literatura de decalques, chegou a este grau de subalternização mental e moral: no campo das liberdades políticas só conhecer vivas e morras, e de tal maneira ter perdido a noção das realidades e o instinto justiceiro dos galardões, que é ver um diabo de espingarda, desata logo a chamar-lhe herói, e a trazê-lo pela rua às cavalitas.
E a razão é simplicíssima: só em Portugal se acredita ainda que as formas de governo tenham que ver na marcha perpétuamente evolucional das sociedades. As nações experientes, os homens de cultura e razão modalizada pelo estudo rigoroso da ciência social e da História, de há muito vêem como na realidade estas coisas, forma de governo e progresso social, vivem completamente estranhas uma à outra.»

ALMEIDA, Fialho d’ – Saibam quantos… (cartas e artigos políticos). Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1912, pp. 15-16.

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